
HISTÓRIA
Localizados no adro do Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas, os doze profetas foram esculpidos em pedra-sabão, entre 1796 e 1805, por Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, e são a maior expressão do barroco mineiro. As doze esculturas dos profetas no adro do santuário de Congonhas, de pedra-sabão, estão colocadas de maneira que se relacionem e cumpram a função de convidar o fiel a subir as escadarias e ouvir a palavra divina da qual são os mensageiros. Suas vestimentas lembram as figuras bíblicas que viveram na longínqua Terra Santa, com turbantes à maneira turca e longos mantos ricamente ornados. As esculturas revelam traços característicos da arte de Aleijadinho: magníficas cabeleiras, olhos oblíquos orientais, além de minuciosos e bem cuidados ornatos das vestes e citações latinas nos filactério (rolos bíblicos).
Na parte inferior, logo à entrada, à esquerda de quem sobe, sobre pilastra misulada, fica o profeta Isaias, que anuncia a palavra de Deus, tendo na boca uma brasa ardente. Do lado oposto, Jeremias, também sobre pilastra igualmente trabalhada, com a pena na mão esquerda, simbolizando a escrita profética. Simetricamente, está Ezequiel, com o braço esquerdo levantado e suavemente inclinado, convidando o peregrino a prosseguir no caminho. Do outro lado, Baruc, profeta menor, é o mais jovem de todos. No topo do lance superior da escada, à esquerda de quem sobe, Daniel, considerado a obra-prima de Aleijadinho, inspirado num trabalho do pintor renascentista Rafael de Sanzio, tem como atributo iconográfico o leão com o qual permaneceu em uma cova. Do lado contrário fica Oseias, barba encaracolada, a pena à destra. Mais para a esquerda, no mesmo parapeito, Jonas recebe do céu a divina inspiração que o profeta precisa para a pregação. Tendo ficado no ventre da baleia, o artista coloca o jorro de água sobre as vestes e uma espécie de golfinho a seus pés. Do lado oposto, Joel. No parapeito superior, à esquerda de quem entra, fica Amos. Simetricamente, no extremo oposto, vê-se Naum, velho, sereno. Ainda no parapeito superior, bem fronteiro à igreja, à esquerda de quem entra, está colocado Abdias, que aponta o céu exortando o povo a ouvir as profecias. Do lado oposto, Habacuc também mostra o céu, completando a gestualidade que une a todos os profetas como que orquestrados pelo cinzel do gênio.
A construção do santuário começou em meados do século XVIII (1757 – 1778). A fachada da igreja é provida de cunhais, pilastras, cimalha e guarnições de pedra. O frontão tem curvas graciosas guarnecidas de pedra. No interior, sobre o trono, a imagem de Jesus Crucificado e, no altar mor , obra de João Antunes de Carvalho (1769 – 1775) dois anjos tocheiros esculpidos por Francisco Vieira Servas. Os altares laterais têm geralmente consolo em lugar de colunas, na parte superior há anjo esculpidos. Na capela-mor , e por toda a nave , há vários painéis representando cenas bíblicas. Também nos tetos do prebistério e do corpo da igreja há variadas pinturas em perspectiva de artistas como João Nepomuceno Correia Castro (1778 – 1787), retocadas por Manoel da Costa Ataíde.
OS PROFETAS
Isaías
Profeta da fé e justiça política, viveu em Jerusalém na segunda metade do século VIII a.C.. Isaias recebe os fiéis na escadaria de convite do santuário. Ele é o primeiro da lista da Vulgata (textos sagrados traduzidos para compreensão popular), pois é o mais importante e autor do primeiro livro dos profetas. Muito conhecido tanto no Antigo como no Novo Testamento – neste último, ele é citado mais de oitenta vezes. Viveu em Jerusalém no século VIII a.C., nos reinados de Achab e Ezequias. Foi o responsável por manter a esperança e fé de que um dia a salvação chegaria por meio do Messias, e por isso mesmo profetizou a anunciação à Virgem Maria e o nascimento de Cristo (estas profecias estão nas cenas pictóricas dentro da basílica).
Ezequiel
Viveu o exílio da Babilônia em 597 A.C. O profeta Ezequiel exerce a função de dar boas vindas ao conclamar o fiel à subida das escadarias até o encontro com o Cristo no Calvário, ponto culminante no retábulo mor, no interior do santuário. Mesmo sendo conhecido como o profeta do exílio na Babilônia, seu passo é discreto, aparecendo apenas um dos pés. Seu gesto é de chamado, pregando em terras distantes com palavras proféticas quase catastróficas.
Jeremias
Conhecido pelas suas profecias que tocavam diretamente o povo de seu tempo, teve a coragem de denunciar seus chefes, sacerdotes e os falsos profetas. Apontou as falsidades das práticas religiosas e os atos de idolatria que chegavam até uma Jerusalém assolada pela cobiça e enfeitada de ouro e tecidos vermelhos. Durante quarenta anos fustigou os sacerdotes e militares até ser preso. Sua determinação em busca da verdade não teve vergonha de expor suas angústias, abrindo a alma para que todos saíssem em defesa dos pobres.
Daniel
Daniel – significa Deus é meu juiz – é um dos quatro profetas maiores que viveu dois extremos na vida: foi prestigiado pelos governantes pelo fato de interpretar sonhos, e cativo quando desterrado para a Babilônia. A inveja de seus inimigos levou-o a ser jogado vivo em uma cova com leões. Ainda jovem foi levado para a Babilônia, durante o reinado de Nabucodonosor. Lá no cativeiro interpretou o sonho do rei sobre os quatro reinos que viriam sobre a terra; o último, o de Deus, não seria destruído. Também interpretou o sonho do rei Belsazar com quatro feras – leão, leopardo, urso e uma última fera com dez chifres – que seriam as potencias daquele período. O Filho de Deus estaria acima delas.
Oseias
Viveu em Israel no século VIII A.C., depois do profeta Amós; pouco se sabe de sua vida, a não ser que se casou com uma adúltera.
Jonas
Filho de Amitai, da tribo de Zebulão, de Israel – viveu no norte daquela região na época de Jérobam II. Teve como missão admoestar os habitantes da capital da Assíria, Nínive, para que se arrependessem de suas crueldades, porém sem sucesso. Naum, posteriormente previu sua destruição. Jonas ao sentir que seria morto, fugiu para Tarsis e durante uma tempestade no mar foi engolido por uma baleia e lá permaneceu por três dias e três noites. A ele é atribuído os escritos do livro de Jonas do Antigo Testamento datado de 585 a.C.
Joel
É um dos doze profetas menores e o segundo dentre deles. Seu nome significa Javé é Deus. Descreveu catástrofes como a peste dos gafanhotos que devastaria as vinhas e pomares. Também anuncia que Deus virá para o Julgamento do Juízo Final, quando as trombetas dos anjos anunciarão o final dos tempos.
Baruc
Baruc não entra na lista de profetas maiores, é tido como um profeta menor, que viveu na Babilônia, e seus escritos confirmam que o povo escolhido não ouviu as palavras dos profetas razão pela qual estão no cativeiro. Era um homem culto, um escriba judeu que transcrevia os textos sagrados dos rolos do Torá. Teria escrito cinco livros do Antigo Testamento – ditos de Baruc – e um sexto, com as profecias de Jeremias. Daí sua função de manter os textos sagrados transcritos.
Amós
Amós era de família humilde de pastores. Viveu por volta de 760 A.C. e foi contemporâneo dos profetas Isaias e Oseias. É um dos doze profetas maiores e sua pregação com palavras diretas e simples denunciou a riqueza excessiva dos ricos e a miséria dos pobres. Pregou ainda contra o próprio povo que, perdido no luxo, esquecera que era o povo escolhido e por isso mesmo merecia o castigo como as nações pagãs.
Abdias
Abdias, profeta menor, pois seu livro é curto, com apenas um capítulo, prega a destruição dos idumeus, povo que vivia em Edon e se voltara contra o povo da Judéia. Seu nome significa o adorado de Javé. Viveu no exílio da Babilônia nos anos de 587 a.C.
Naum
Naum é conhecido pela sua profecia sobre a destruição de Nínive, capital da Assíria. Este fato é narrado com contundência e beleza literária, mas em linguagem direta e contundente de que essa queda fora uma obra de Deus. É o sétimo dos profetas menores e viveu no século VII a.C. sendo contemporâneo de Jeremias, que também profetizara a queda de Nínive.
Habacuc
Habacuc, oitavo dos profetas menores, era da tribo de Levi e foi contemporâneo do profeta Jeremias. Quando o profeta Daniel estava preso na cova com os leões, Deus pediu-lhe que levasse comida a Daniel, guiado por um anjo. Passou alguns anos no cativeiro da Babilônia e, de volta a Jerusalém, é considerado como o guardião do templo de Salomão. Em meio às suas atribulações, o profeta questionou porque Deus não agia diante de seus clamores contra o povo caldeu opressor.
Fonte
Mostra Explorando os 12 Profetas de Aleijadinho - Mostra em 3 Dimensões. Museu de Ciências da USP - Direitos reservados. www.mc.prceu.usp.br/aleijadinho

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